sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

INCIDENTE? ACIDENTE?

OU SIMPLES JOGO DE BOLA?


‘Vocês podem citar o nome dos 12 mortos no Cabula?’, questiona estudante 

na OAB-BA

por Bruno Luiz
‘Vocês podem citar o nome dos 12 mortos no Cabula?’, questiona estudante na OAB-BA
Estudante Nívea de Souza | Foto: Angelino de Jesus/OAB-BA
"Vocês podem citar o nome dos 12 mortos no Cabula? Vocês sabem os nomes dos cinco PMs mortos?". "Foram cinco mortes em um ano. Foram 12 mortes em um só dia". 

Com estas palavras, a estudante Nívea de Souza, do Bacharelado Interdisciplinar em Artes da Universidade Federal da Bahia (Ufba), foi responsável por um dos momentos mais emblemáticos da audiência da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Bahia (OAB-BA), que discutiu, nesta quinta-feira (26), as 12 mortes que ocorreram no último dia 6 de fevereiro, na Estrada das Barreiras, bairro do Cabula, em Salvador

Em conversa com o Bahia Notícias, a dona do acalorado discurso que provocou alvoroço na audiência falou que negar a existência de uma guerra entre polícia, subúrbio e periferia, em Salvador, “é uma idiotice”.  Ao comentar a participação de Geraldo Reis, secretário de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do estado na audiência, a estudante criticou a forma como ele trata do ocorrido no Cabula. “O secretário fala de forma muito fria sobre os acontecimentos. Ele fala em incidente. Ele chama de acidente. Ele chama de situações de operações. Se você vai perguntar a um pai e uma mãe de um dos adolescentes assassinados, eles não vão chamar de acidente, vão chamar de homicídio. Tiraram uma parte deles”, afirmou. “Não sou a favor de morte. Se você tem uma lei, tem que ser cumprida. Cidadão não tá acima de ninguém. Policiais não são melhores nem maiores que ninguém. Pelo contrário, o salário deles é pago pelas pessoas que eles estão matando. Vamos pensar nisso. Não é dizer que a pessoa que cometeu um crime não tem que pagar. No entanto, não é condenar uma pessoa à morte. É dar uma segunda chance a ela”, ressaltou. 

Nívea ainda disse que acha que a culpa da violência que mata centenas de negros anualmente não é da Polícia Militar, mas de uma conjuntura. "É como uma pirâmide. A PM está na base e recebe ordens para cumprir. A responsabilidade não está com a PM. Está na forma como as leis são passadas e como eles as interpretam”, explica. “Se você educa uma sociedade pra ascender, se você educa a PM para defender os cidadãos, que é contratada para fazer isso, você não vai poder dizer que a culpa é disso ou daquilo. A culpa é de todo um sistema. Vira um círculo vicioso, infelizmente”, expôs. 

A estudante ainda se diz a favor da desmilitarização da PM.  “Tenho medo da PM. Foram doze mortos no Cabula. Isso dói. Eu acho que, acima de tudo, precisa haver um rearranjo do pensamento do que é polícia. Polícia é para defender, não para matar”, afirmou. 

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