domingo, 25 de janeiro de 2015

GABRIELLI ESCORREGOU!

Um brilhante artigo de Samuel Celestino

Se o ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, aguardasse um pouquinho mais, só um pouquinho, dificilmente redigiria uma resposta ao comentário que divulguei em A Tarde edição da quinta-feira última. Precipitou-se. Respondeu de imediato, como é possível observar no seu texto publicado, como é correto no bom jornalismo, na edição de ontem, sábado. Em verdade, o ex-presidente da estatal mergulhada em corrupção não pretendeu contestar o que considerou “interpretações errôneas” contidas segundo ele no comentário, mas me parece ter desejado aproveitar a oportunidade para expor o que pensa sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, para ele um “excelente negócio”.
         
Claro, se ocorreu na sua gestão? Na mesma quinta-feira, fim da tarde, o céu desabou. A Folha de S.Paulo, em matéria redigida por quatro jornalistas, divulgou que houve corrupção no negócio envolvendo a refinaria. A delação é, mais uma vez, do ex-diretor Paulo Roberto Costa. Declarou, pela primeira vez à Polícia Federal que, ele próprio, recebera US$ 1,5 milhão para votar a favor da compra na reunião da diretoria que decidiu o negócio “por unanimidade”. O ex-diretor confessa ter-se vendido com a intermediação do lobista Fernando Baiano (preso), com dinheiro oriundo supostamente da Astra Oil, empresa belga que queria passar adiante Pasadena, o que acabou por acontecer. A Petrobras ficou a ver navios. Seus funcionários logo batizaram a refinaria adquirida com o curioso apelido de “ruivinha”, por estar enferrujada. A refinaria teria sido construída entre os anos 20 e 30 do século passado.

Não só. Paulo Roberto Costa denunciou que o ex-diretor de Assuntos Internacionais, Nestor Cerveró, ora preso, supostamente recebera, também para votar a favor, algo em torno de US$ 20 milhões a US$ 30 milhões, mas não há provas ainda da negociata. Assim, se Gabrielli não encontrasse em meu comentário motivos para expor aquilo que já externara sobre a refinaria adquirida, se aguardasse apenas algumas horas, provavelmente manter-se-ia em silêncio. Na exposição que fez, explica que o “centro da sua defesa no TCU, diferentemente do que está na coluna, não é de responsabilizar o Conselho de Administração da Petrobras por um “fictício” prejuízo. Mas mostrar que a decisão foi correta”.

Correta? Como se admitir como uma decisão sensata da diretoria e do Conselho quando um ex-diretor da petroleira afirma que recebera propina para votar a favor da compra, dinheiro depositado num paraíso fiscal europeu? Correta? E a declaração de que Nestor Cerveró, igualmente diretor, teria recebido como propina para votar a favor da Astra Oil entre 20 e 30 milhões de dólares? Bem, Gabrielli tem amplo e democrático direito de raciocinar da maneira que bem entender, por estar exercitando uma defesa do que aconteceu na sua gestão. O interessante, porém, é compreender-se que, mesmo que continue na tecla segundo a qual o prejuízo na compra de Pasadena foi “fictício”, o Tribunal de Contas da União, TCU, considerou que houve um prejuízo em torno de US$ 792 milhões para a Petrobras. A decisão levou o Tribunal a colocar em indisponibilidade os bens do ex-presidente. 

Saí até em sua defesa, na medida em que considerei que a indisponibilidade não deveria ficar apenas nos seus bens, mas se estender a todos que consentiram na compra, inclusive o Conselho de Administração da petroleira. Pena. José Sérgio Gabrielli preferiu outra rota, a da sua defesa responsabilizando o então presidente do TCU, ministro José Jorge, sem se esquecer de politizar a questão Pasadena – e aí falou a voz do PT - ao lembrar que ele, José Jorge, fora ministro do presidente Fernando Henrique Cardoso. Ora, o que tem FHC a ver com a brutal corrupção que corrói a maior estatal brasileira, a Petrobras? Não dá para entender uma coisa misturada a outra. O caso é de corrupção, não de politização.  

O problema é que a compra de Pasadena e a compra de diretores para votar a favor do negócio voltou à tona. É sempre assim. Também retornou ao noticiário José Dirceu, que passou a ser investigado pela Operação Lava Jato por ter prestado serviços às empreiteiras envolvidas com propinas e corrupção na estatal e faturara R$ 4 milhões. O fato de Dirceu retornar ao noticiário deve-se lembrar necessariamente Lula? Claro que não. Os fatos se diferenciam como as verdades também.
 

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