sexta-feira, 23 de agosto de 2013

ESTÉTICA >< CONFORTO

Grupo de moradores do 360º quer colocar vidro nas varandas

Fachada do 360 (Imagem Divulgação)

De todos os prédios com varandas envidraçadas existentes na cidade, há um em que a colocação de vidros é mais do que uma questão de gosto. É uma questão de preservação do patrimônio arquitetônico. Trata-se do 360º, projetado por Isay Weinfeld e vencedor das categorias residencial e geral do Prêmio Future Projects, promovido pela revista inglesa Architectural Review, entre  300 inscritos. O prédio foi construído pela Stan no Alto da Lapa, mais espeficificamente no topo de uma colina na Rua Camboriú. A entrega das chaves, prevista para abril de 2011, só aconteceu em maio deste ano, ou seja, com dois anos de atraso. Por conta disso, alguns moradores já entraram com processo contra a construtora. Mas essa não é a única polêmica envolvendo o edifício.
Ontem à noite, foi realizada uma reunião de condomínio para discutir uma proposta no mínimo controversa: a colocação de vidros nas varandas dos apartamentos. Muitos desses moradores não devem saber que o local que eles adquiriram por cerca de 5 500 reais o metro quadrado em 2008, custa hoje cerca de 11 500 reais o metro quadrado justamente por causa da originalidade de seu projeto arquitetônico.
As varandas abertas foram usadas como recurso para dar profundidade à fachada e fazer com que as unidades pareçam estar encaixadas umas sobre as outras. A aparência remete um pouco a um cubo mágico: a vontade que dá é de girar os apartamentos sobre um eixo invisível para ver a fachada ganhar novas facetas. O vidro então fica restrito às paredes (da sala, dos quartos e da cozinha), sempre atravessadas por janelas de fora a fora que permitem ao morador ter uma ampla visão em qualquer direção — daí o nome 360º.
O eventual envidraçamento das varandas faria com que as unidades se igualassem a milhares de outras semelhantes em neoclássicos e quetais. O improviso da manobra tornaria o efeito ainda mais desastroso, matando o valor arquitetônico do prédio. E, por que não dizer, desvalorizando o patrimônio de cada um de seus proprietários.
Ontem, durante a reunião, a empresa responsável pela administração do condomínio deixou bem claro que, antes de tudo, colocar vidros é uma ilegalidade. De fato, essa prática não é permitida pela legislação municipal e está sujeita a sanções. A falta de fiscalização, porém, contribui para que muitos prédios envidrassem as unidades e a coisa fique por isso mesmo. Qualquer pessoa pode denunciar à prefeitura uma situação semelhante, o que deixou o autor do projeto, Isay Weinfeld, relativamente tranquilo. Em último caso, ele não descarta a chance de ele mesmo fazer a tal denúncia.
Sendo a prática ilegal, a administradora informou que não poderia submeter a questão a votação. Deixou que os condôminos decidissem entre eles se seguiriam adiante e cometeriam essa ilegalidade ou deixariam tudo como está. A disputa foi apertada: 17 proprietários quiseram mandar bala no vidro. Outros 21 negaram-se a fazer qualquer mudança. Por enquanto, o 360º fica como está.
A última edição da revista inglesa Monocle, a mais importante e prestigiada publicação sobre a vida nas grandes cidades, acaba de aportou nas bancas paulistanas na última sexta-feira com uma reportagem (adivinhe) sobre o 360º. Ainda bem que a matéria saiu antes da reunião de condomínio.

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