quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O SONHO DO PIBÃO


Nossa Presidente quer um “pibão” para 2013. Ótimo. Nós, pequenos e médios empresários, também queremos. Estou falando em nome dos pequenos e médios empresários porque, como se vê no dinamismo da economia alemã, creio que somos o coração do crescimento de um pais. As grandes empresas, na maioria dos casos, não têm muito mais para onde crescer e buscam principalmente eficiência através de redução de custos ou absorvem competidores menores para manter ou aumentar suas fatias de mercado. Pelo contrario, num país aonde se favorece este segmento da economia privada, as pequenas e medias empresas mostram taxa de crescimento acima de 10%, principalmente através do investimento produtivo.
Nesse ponto de vista, o governo Dilma merece elogios por ter conseguido o rebaixamento das taxas de juros. O retorno do capital produtivo não pode ser inferior ao retorno do capital financeiro como se observava na maior parte da década anterior. Mas mesmo com taxa de juro menor, Pibão não se decrete, especialmente numa economia liberal como o Brasil. Infelizmente, hoje, o Brasil não oferece as condições adequadas para as pequenas e medias empresas contratar mais funcionários e investir na sua cadeia produtiva. Primeiro, a complexidade do sistema tributário chega a um nível de absurdo que obriga qualquer empresa a pagar contador e advogado valores que não criam nada para o país. Quem já analisou um balancete sabe dos inumeráveis impostos e taxas que se pagam no ano: iss, icms, pis, cofins, irpj, iof, iptu, laudêmio, iptu, taxa de esgosto, csll, taxa de icendio, itiv, tff, tvl etc... além dos impostos embutidos nas compras de qualquer produto e serviço. Não sou contra um nível de imposto substancial para pagar o custo dum modelo de sociedade justo e equilibrado, mas na medida em que seja compatível com esse modelo. Pelo contrário, a pobreza das infraestruturas do país, sejam de transporte publico, de segurança publica, de saúde e de educação, leva os empresários a enfrentar, além das taxas exorbitantes, custos altos para oferecer as seus funcionários um plano de saúde decente, para pagar cursos para formá-los, para proteger seus equipamentos com segurança privada e para transportar seus produtos e serviços até os seus clientes.
Sabemos dos esforços recentes do governo federal para baixar alguns impostos e reduzir o custo da energia. Infelizmente, vários estados, inclusive o Estado da Bahia, já compensaram a perda de receita tributaria elevando outros impostos ou criando novas taxas. O que se deve entender é que para investir, as empresas precisam não só de uma taxa de retorno adequada, mas também de visibilidade a meio e longo prazo. Esta visibilidade exige um ambiente de trabalho seguro e estável, aonde não se criam a toda hora medidas provisórias, leis e impostos novos. O prazo saudável de um investimento vai de quatro a dez anos. Num ambiente caótico, pelo contrario, a maioria dos empresários busca um retorno em dois anos, o que só se pode conseguir com uma margem de lucro abusiva, e caso não seja alcançável, os levará a desistir de investir.
Quando criei minha empresa anos atrás, um amigo meu me avisou que no Brasil, um empresário deve trabalhar muito para ganhar pouco. Não tenho a ambição de ganhar muito e creio que seja o caso da maioria dos meus correlegionários. Temos, sim, o desejo de ganhar bem, assim como nossos funcionários, e de ver nossas empresas crescer a cada ano, sem sofrer da precariedade e da imprevisibilidade de um ambiente econômico, jurídico, social e ecológico que representam o verdadeiro freio ao investimento. O Brasil do futuro não vai se construir exclusivamente a partir dos campeões nacionais que são a Petrobras, a Vale do Rio e a Embraer, mas também com o dinamismo das pequenas e medias empresas que hoje lutam todos os dias para sua sobrevivência.
Uma última palavra: eu não pertenço a nenhum partido politico, e creio que qualquer governo precisa de tempo para mudar a sociedade na sua profundeza. Só não quero passar esse final de ano me perguntando se em 2013 eu devo preservar parte do meu capital de giro para enfrentar custos e taxas imprevisíveis ou se eu posso investir no futuro do meu projeto, dos meus funcionários e no destino do país.
BERNARD ATTAL
battal1@mac.com
Criador do Trapiche Pequeno, o Centro de Economia Criativa da Bahia.

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