quarta-feira, 3 de outubro de 2012

AINDA SOBRE WALDIR PIRES


Recebi de Ana Cristina,  filha do Waldir Pires, 
esta carta defendendo as opções políticas de seu pai.
Respeitando interpretações contrarias ás minhas, 
transcrevo aqui a carta, mesmo discordando.
 Não se deve, a meu ver, trair um povo que votou
 para mudar a realidade de seu estado.
Pela mesma razão, o José Serra provavelmente
não será eleito prefeito de São Paulo.

PAREM, LEIAM E REFLITAM!

Este ano está fazendo 25 anos que meu pai, Waldir Pires, tomou posse como governador da Bahia.

Foi uma eleição linda, arrebatadora, coroando uma campanha emocionante.

Para que todos os mais de 360 municípios baianos fossem percorridos, os comícios (vários por dia) tinham acontecido até de madrugada, com as praças apinhadas de gente para ouvir Waldir falar.

Artistas e intelectuais do Brasil todo assinaram um manifesto de apoio à sua candidatura. Como pessoas da cultura eles sabiam bem como era a Bahia e o Nordeste com os seus coronéis tão bem caracterizados como Odorico Paraguaçu ou Ramiro Bastos.

Foi uma consagração! Depois de um trabalho de formiguinha, de seis anos, desde a Anistia até 86, para a implantação do PMDB num estado dominado pela mão de ferro de ACM, quase 90% dos eleitores de Salvador e quase 80% dos eleitores do interior escolheram  Waldir e deram a ele um milhão e meio de votos de vantagem sobre o adversário.

A maior votação proporcional no Brasil todo. De ponta a ponta a Bahia festejou a sua vitória.

E Waldir se tornou governador de seu Estado, sonho acalentado desde 1962.

Ele estava determinado a fazer um governo de mudança, de participação da sociedade, de diminuição drástica da desigualdade social e de transparência total do gasto do dinheiro público. Logo no início baixou um decreto determinando que o Diário Oficial publicasse a origem e o destino de todos os recursos do Estado. Era o contraponto ao império nebuloso instalado até então.

O apoio do governo federal era nenhum. O presidente era Sarney e junto a ele estava - mordido até a alma pela derrota - ACM, no comando do poderoso Ministério das Comunicações. Se não bastasse, ele era também dono de rádios, jornais e sobretudo da Globo na Bahia, a única emissora que chegava a todo o interior do Estado. Qualquer um pode imaginar o que isso queria dizer!
Era mentira em cima de mentira repetida sistematicamente!

Para se ter uma idéia, nesse período, o dinheiro federal, através da Caixa Econômica Federal foi usado para financiar a construção do Shopping Barra (se não me engano, pela OAS) enquanto foi vetado o empréstimo, que seria pago em nove anos, para financiar a construção de 100.000 casas populares do projeto “Minha casa – o direito de morar”, do Governo do Estado.

Mas Waldir não ia esmorecer no trabalho de mudança, de ética, de austeridade. O exemplo era cobrado de todos os titulares de cargos de confiança e logo no primeiro ano ele demonstrou isso trocando, para surpresa de todos,  o Secretário de Estado de Minas e Energia, seu vice, que programou estender aos grandes produtores a eletrificação rural que tinha sido determinada, a custo zero, para os pequenos agricultores familiares.

Apesar de tudo - com rigidez completa nos gastos, com controle de caixa, com licitações públicas absolutamente democráticas e transparentes  (nenhuma construtora ou empreiteira era vetada por ser de oposição) e com a determinação de não serem gastos recursos em propaganda de governo - em pouco mais de dois anos se eletrificou mais a área rural do que nos 10 anos anteriores, se construiu o Hospital Geral de Salvador, se pavimentou (com a qualidade exigida nas licitações e com fiscalização séria)  milhares de quilômetros de estradas, se construiu dezenas e dezenas de creches populares, etc, etc, etc.

Acontece que para o Brasil estava chegando a tão esperada eleição para presidente. E acontece que a Bahia faz parte do Brasil.

Após tantos anos de ditadura, tínhamos conseguido, com luta e sacrifício, conquistar o direito do voto para presidente e avançava nas pesquisas um candidato jovem, raivoso mas bem falante, se dizendo “caçador de marajás” mas já bem conhecido no meio político mais sério.

Quando Ulysses foi indicado candidato à presidência, a pressão para que Waldir compusesse a chapa com ele passou a ser enorme. A posição recorrente era que precisavam de uma chapa muito forte para tentar conter o avanço de Collor que seria um desastre para a Nação.

A voz geral era que, com a chapa Ulysses e Waldir se teria a união dos diversos segmentos do mais poderoso partido, o PMDB, e talvez a chance de reverter o quadro e livrar o país daquele falso salvador.

E foi aí que todos os governadores, senadores e líderes do PMDB desembarcaram em Salvador, juntamente com Ulysses, para o que seria o dia mais difícil da vida pública de meu pai: deixar o tão almejado governo do seu Estado.

Mas se o Brasil estivesse mal a Bahia também estaria e se a chapa Ulysses e Waldir tivesse uma chance de vitória, seria uma vitória para a Bahia.

Nada, portanto - para quem é idealista e está longe do traço peculiar a muitos políticos da vaidade e da ambição - justificaria se negar a isso. Muito menos Waldir que tinha lutado tanto pela volta do regime democrático.

Ele abriu mão do seu sonho; ele abriu mão do que construiu durante anos e anos e anos de luta para conseguir livrar a Bahia daquela oligarquia pesada, mesquinha, truculenta.

O GESTO DELE FOI DE UMA GRANDEZA SEM TAMANHO.
SÓ OS MUITO IDEALISTAS SÃO CAPAZES DA RENÚNCIA QUE ELE FEZ.

E ela lhe custou bastante caro porque foi um prato feito para ACM massificar a cabeça das pessoas com a deturpação lançada dia e noite nos meios de comunicação de sua propriedade.

MAS AGORA CHEGOU A HORA, 23 ANOS DEPOIS DE AS PESSOAS AO MENOS PARAREM  PARA PENSAR!

O que eu, sua filha, que sinto enormemente essa injustiça, acho, é que essas pessoas que sustentam essa mentira sem pensar, não merecem um homem que com 85 anos de luta incansável e de amor incondicional à sua terra ainda chega e ensina para quem quiser aprender:

“Política não é carreira; é uma destinação.
É a luta infatigável por uma sociedade livre e mais justa.”


Ana Cristina Avena Pires Duarte
Setembro 2012

Alguns comentários recebidos

Engraçado ela citar que o pai retirou o vice do cargo de Secretário de Energia por beneficiar grandes produtores rurais e, pouco tempo depois, entregar todo o cargo supremo do estado a este mesmo homem. Muito contraditório. Se há um gesto a se louvar, é o de Waldir Pires ter conseguido o que só o filho de Deus conseguiu: fez renascer um morto político, dando novo fôlego e vida a ACM. Lamentável. Mais lamentável ainda é se deixar ser usado pela petralhada. Foi assim no Ministério da Defesa, quando foi ridicularizado, na tentativa de ser senador, preterido por Pinheiro e, agora, sem apoio nenhum para ser vereador. 

Dimitri, esse Waldir é uma desgraça. Abomino-o com aquela carinha querendo passar-se por uma Evita de calças. 

A Bahia faz parte do Brasil e o interesse do Brasil é mais forte e maior que o interesse meramente regional baiano. Fez certo no momento correto como explicado na carta. O insucesso da eleição foi devido a fatores estranhos, principalmente pelo apoio ostensivo e nocivo das organizações globo adulterando o debate na televisão, tudo levando a que Collor fosse mais tarde defenestrado do poder por corrupção como antes havia sido proclamado. Se votasse na Bahia (sou carioca), certamente Waldir teria o meu voto, ainda mais pela bela carta da sua filha. Assim se faz a história de um país. 

Concordo com seu comentário Dimitri. O povo que o elegeu ficou chocado, inclusive minha pessoa que nunca mais votei no Waldir. Ele teria que honrar com seu compromisso com o povo baiano e deixasse que o próprio povo julgasse seu mandato. Sair para candidatura a presidência achei e acho que foi vaidade. 

Fui e ainda sou amigo do Dr. Waldir Pires.Re conheço seus erros no passado,sem deixar de re- conecer seus méritos- e são muitos.Critiqueidura mente a ida para o Min. da Defesa após brilhante e proficua passagem pela Controladoria Geral da U nião, da mesma forma teci críticas a sua saída do governo para a aventura dde ser vice do Dr.U- lisse Gumarães, <as, pelo seu passado e dever de gratidão, darei um voto de confiança em sua inves tida na Câmara de Vereadores,mesmo sabendo que o PT não merece em nenhuma hipótese meu voto, e que Waldir será um puxados de votos para e leger mais um ou dois vereadores. Lamentável.


WALDIR FOI O ÚNICO POLÍTICO A QUEM APOIEI PUBLICAMENTE ATÉ AGORA.
COLOQUEI MEU NOME NUM DOCUMENTO PRÓ WALDIR.
 ACEITAMOS NILO COELHO COMO VICE , APENAS PARA DERROTAR ACM.
 SENTI-ME TRAÍDO QUANDO ELE DEIXOU O GOVERNO COM NILO COELHO.
 E NÃO ME VENHA COM CHURUMELAS DE ULÍSSES GUIMARÃES.
 SE ELE ACREDITAVA QUE ULÍSSES IA SER PRESIDENTE DO BRASIL , ELE
 É MUITO PIOR POLITICAMENTE DO QUE EU PENSAVA.
 NA ÉPOCA , MEU FILHO TINHA 13 ANOS, GOSTAVA DE POLÍTICA E AFIRMOU:
 " MEU PAI , ULÍSSES GUIMARÃES NÃO CHEGA AO SEGUNDO TURNO DE JEITO NENHUM".
 NÃO QUERO WALDIR NEM PARA SÍNDICO DO PRÉDIO ONDE MORO.
 POR FAVOR , FAÇA CHEGAR ESTE COMENTÁRIO À FILHA DELE.

2 comentários:

  1. Concordo com seu comentário Dimitri. O povo que o elegeu ficou chocado, inclusive minha pessoa que nunca mais votei no Waldir. Ele teria que honrar com seu compromisso com o povo baiano e deixasse que o próprio povo julgasse seu mandato. Sair para candidatura a presidência achei e acho que foi vaidade.

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  2. Engraçado ela citar que o pai retirou o vice do cargo de Secretário de Energia por beneficiar grandes produtores rurais e, pouco tempo depois, entregar todo o cargo supremo do estado a este mesmo homeme. Muito contraditório. Se há um gesto a se louvar, é o de Waldir Pires ter conseguido o que só o filho de Deus conseguiu: fez renascer um morto político, dando novo fôlego e vida a ACM. Lamentável. Mais lamentável ainda é se deixar ser usado pela petralhada. Foi assim no Ministério da Defesa, quando foi ridicularizado, na tentativa de ser senador, preterido por Pinheiro e, agora, sem apoio nenhum para ser vereador.

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