quarta-feira, 22 de agosto de 2012

TESTEMUNHO DE UMA GUIA-INTÉRPRETE

Bom dia.
Repasso aos senhores esta carta (abaixo) de uma jornalista francesa, postada no Blog do Dimitri. Quiçá a carta nos sirva de reflexão e - quem sabe um dia - seja motivo de reação.
Esta é a nossa triste realidade! Tenho dito, e repetido, o que, evidentemente, todos sabem: nosso Turismo é conduzido por pessoas que dele  nada sabem, ou, na melhor das hipóteses, pouco conhecem da sua intrincada engrenagem .. O resultado é - sempre - este desastre! Uma prova mais recente foi o World´s Poultry Congress - Congresso Mundial de Avicultura. O congresso do "NÃO": do "Não sei"...    Lá trabalhei como tradutora no stand de um produto apresentado pela primeira vez no Brasil. Fui contratada, vale ressaltar, diretamente,  pelos produtores.

Francamente, eu jamais tinha visto tanta incompetência agrupada. O pior, é que incompetências agrupadas proliferam como colônias de bactérias no lixo, ou seja, naquele imenso espaço de escombros  que insistimos em chamar de "Centro de Convenções", havia uma multidão equipada com moderna parafernália de comunicação: rádios, walk talk, celulares (que não paravam de tocar), seguranças de terno e gravata a cada 10 metros (em alguns espaços a cada 05 metros), enfim, uma multidão de rapazes e moças que "brincavam"; alegres, com sua credencial pendurada no peito tentando, através dela,  disfarçar a própria incompetência, o próprio desinteresse...


Nada (tinham) têm a perder, dado que aceitar tarefas mesmo sabendo da própria incapacidade para realizá-las  é uma característica que os medíocres trazem no DNA. Além do mais, se reconhecem meio a seus pares, e, portanto, acabam "se dando bem". Claro é, nós bem sabemos, que "se dar bem" é o que conta nesta sociedade cuja moral marcada a ferro traz como lema: "eu quero é levar vantagem em tudo".

Gente que mais parecia "gato em dia de faxina", andando de um lado a outro sem saber, exatamente, aonde ir. Porém, a diferença entre uns e outros era gritante, pois gatos ficam extremamente incomodados pela falta de direção, enquanto que o Staff do congresso sentia-se pleno e muito à vontade, como se estivesse num imenso playground onde tudo lhes era permitido, exceto, é claro, atender às necessidades dos expositores e congressistas, mesmo porque, ao que deram a entender, não sabiam ao certo o que lá faziam - e tampouco estavam interessados em saber.

Experiência própria, quando um expositor necessitava de algo banal como, por exemplo, encontrar um adaptador para a única tomada que tinha no seu stand, ou fazer xerox de documentos, ou reclamar sobre a internet (que "caía" o tempo todo e às vezes demorava muuuiiiito a voltar causando estresse àqueles longe de seus países) , tudo isso, melhor dizendo, essas coisas banais, cotidianas, eram problemas que demandavam muuiiitto caminhar atrás de um rapaz - ou de uma senhorita - que diante da pergunta mais banal respondia, automaticamente: "um momento senhor"...

A partir daí iniciávamos a Via Crucis; era um desfilar de nomes de gatos perdidos meio a multidão e que não sabiam aonde ir. O Joãozinho* era chamado pois necessitávamos de xeroxs, mas Joãozinho não sabia manusear a máquina e esta não era "a sua competência"; chamava-se então Mariazinha* que, questionada sobre o "por quê" a sala da xerox estava vazia, respondia, é claro, que nada  sabia a respeito.

Seguíamos à procura de um "responsável"(?); encontrado, este nos encaminhava a procurar  o que seria um "SAC". Lá encontravámos outro batalhão sem nada fazer e, pior, sem saber o que fazer - nem aonde ir. E assim foi, sucessivamente...No último dia do congresso decidimos deixar o stand sem tradutor: este, seguiu para fazer xerox fora dos Escombros.

E assim, dentro desses mesmos moldes, caminha o Turismo na Bahia... Mas não nos inquietemos: já já, a imprensa local alardeará que o Wordl Poultry International foi um SUCESSO!!! E todos nós fingiremos acreditar. Afinal, é também nossa marca a ferro fingir acreditar: e, assim, acreditando,  jamais seremos antipáticos, complicados, criadores de problemas.

Não! ... Nós seremos bonzinhos, agradáveis, generosos, simpáticos; afinal, é mais simpático ser simpático; esta performance ainda nos traz a vantagem de arriscarmos "levar vantagem em tudo".

*N.B: nomes ficitícios

Um comentário:

  1. Isso é a mais pura realidade de um estado que a cada dia tende a sumir do mapa do turismo em todos os sentidos. Um governo inerte. Uma prestação de serviço que beira o caos.
    Lendo esse texto enxerguei tudo isso acontecendo. Aquelas garotas e garotos tirados das academias do corpo, deixo claro, desfilando com seus crachás sentidos os donos do universo.
    Isso sem falar na pessima situação que se encontra o Centro de Convenções da Bahia.

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