domingo, 24 de junho de 2012

  SOMOS TODOS CULPADOS

Em novembro passado, um pequeno artigo na página policial deste jornal passou despercebido pela maioria dos leitores. Na longínqua cidade de Barreiras, 82 presos tinham fugido do complexo policial, ficando 90 outros presos que recusaram a oportunidade, sabe-se lá por quê. Detalhe: o local, inaugurado em 2003, fora previsto para 28 presos, mas amontoava 172! Ou seja, onde caberia um único homem, havia mais de seis!
Imagine seis pessoas para dividir uma cama ou um espaço sentado. Trata-se de uma situação absolutamente inadmissível, um crime contra a dignidade humana que mereceria ser julgado em tribunal internacional. E depois a sociedade fica reclamando da falta de segurança!
Com tamanha omissão das autoridades e silêncio da opinião pública, somos todos coniventes com o agravamento da marginalidade. Está mais que provado: onde há respeito pelo transgressor, há maior possibilidade de regeneração. As poucas penitenciárias que se preocupam com recuperação e inserção na sociedade sabem que as chances de transformar um marginal/marginalizado em cidadão consciente são proporcionais ao tratamento recebido e a formação profissional adquirida. Se é comum observar protesto para tudo e qualquer motivo - uma passarela, um semáforo ou falta de ônibus - nunca vi passeata a favor dos presos tratados pior que gado ou frango de aviário.
A visibilidade de um governador ou ministro ao decidir a construção de um novo estádio, de questionável necessidade, ou de uma ponte faraônica, é indiscutível, embora existam outras soluções mais econômicas, porem menos espetaculares. Cabe a sociedade organizada questionar o oportunismo destas obras em detrimento de urgências como resgatar a dignidade e o futuro de seres humanos.
Lembro uma entrevista neste mesmo jornal dada pela recém empossada Secretária da Justiça, Marília Muricy, hoje relatora da Comissão de Ética Pública em Brasília, quando falou da gravidade do problema. Infelizmente, não lhe foi dada a oportunidade de construir novas relações com os que são, com freqüência, mais vítimas ou desajustados que culpados.

Um comentário:

  1. Caro Dimitri
    Nada a acrescentar, assino embaixo.Abraços,
    Climerio Andrade

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