domingo, 17 de junho de 2012

DO CURUZÚ AO TROCADÉRO

Do Curuzu ao Trocadéro

Vim pela primeira vez á Salvador em março de 1971, na sombra do escritor Orígenes Lessa e sua Maria-Eduarda, filha do algarvio conde Marim. Eles para o casamento do filho de Jorge Amado, eu, mais modestamente, só para descobrir o Brasil (!). Me hospedei no agradável hotel Vila Romana  dominando a adormecida Barra e comprei duas camisas muito coloridas na loja de Di Carlo, frente ao Hotel da Bahia. Uma noite, seduzido por algum cartaz, fui assistir um show folclórico no recém inaugurado Teatro Castro Alves. O público não chegava a encher a platéia e pude escolher uma poltrona bem situada. Enquanto as luzes não apagavam observava movimentos e comportamentos. Até chegar o jovem Di Carlo, acompanhado por uma deslumbrante e elegante negra, talvez vestida com algum exagero, mas espetacular. Lembro bem do vestido longo, preto e dourado, com frangas, por que era de um tecido muito na moda em Marrocos. Desceu, soberba, a escadaria, tal uma imperatriz.
 
Voltei para Europa, Luana fez seu caminho pelas passarelas da alta-costura parisiense. Em 1975, peguei minha trouxa e me mudei para a Bahia. De vez em quando as crônicas sociais se encantavam com a moça nascida no Curuzu, agora vestindo Yves Saint-Laurent e Christian Dior. A negra teve o efeito de um rolo-compressor sobre os preconceitos locais até, cúmulo, casar com o conde Gilles de Noailles, de autêntica e antiga aristocracia francesa.
Hélas!... Ao contrário dos contos de fadas, o príncipe encantado não demoraria em falecer, deixando á viúva pouco mais que um belo título e alguns móveis Luis XV.
Por coincidência, no ano seguinte, participei de um destes jantares sofisticados com direito a vista sobre o rio Sena e Torre Eiffel. A minha esquerda, uma representante da ilustre família. Com costumeira falta de jogo de cintura, acabei perguntando sobre a Luana. Minha nobre vizinha - colar de pérolas finas e lindo sorriso - foi direta: “O Gilles não poderia ter escolhido alguém com mais dignidade. Nos gostamos muito dela. Continua fazendo parte da família”.
Aristocratas podem nascer até na Liberdade.

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