quinta-feira, 12 de abril de 2012

AS ÁGUAS DO SÃO FRANCISCO

NÃO TENHO A MÍNIMA CONDIÇAÕ DE CONFIRMAR OU CONTESTAR ESSAS AFIRMAÇÕE, MAS QUE SÃO PERTURBADORAS, ELAS SÃO, COM CERTEZA

ÁGUAS NO NORDESTE: Um debate

30 de março de 2012,
Prezados Apolo, Patrocínio e Cássio,
Estava viajando pelo interior do estado da Bahia e não pude acompanhar as discussões de vocês.
Vou agora emitir o meu pensamento.
O foco é o problema dos recursos hídrico do Nordeste, embutido nele a Transposição, ou como usa o Governo o nome pomposo de Integração das Bacias do Nordeste.
A preocupação básica do colega e amigo Cássio é mostrar erudição técnica com números cheios de decimais falando da exatidão da matemática. A trama atmosférica, entretanto, é muita complexa, não usa decimal e costuma pregar peças nos técnico, nos cientistas e em todos os arautos do conhecimento.
Estou lendo na discussão o preciosismo de dados de vazões, o rendimento hidrológico, vazão regularizada, vazão útil, vazão disponível, vazão social e por aí vai, mas sempre bordejando a Transposição pelos arrabaldes sem enfrentar a questão pelo topo, tentando justificar com numerologias a loucura do Governo que teima na construção desta famigerada obra. O tema é a Transposição é sobre elas que temos de falar, sem dados surrealistas que nada convencem. O Nordeste precisa ou não da Transposição? O Cássio diz que precisa.
O orçamento inicial era 3,6 bilhões de reais para toda a obra, hoje está em 8,2 bilhões. Sabemos que o orçamento deverá alcançar os 16 bilhões se a obra chegar ao fim. O cálculo é meu sem medo de errar.
Um grupo de políticos, ávidos para salvar o Nordeste, apregoa abertamente o fim das secas e a salvação do povo com a Transposição. São verdadeiros patriopanças e ladriótas. Os técnicos vivem a fundamentar com “dados irrefutáveis” a vontade pardacenta dessa turma.
Carlos Lacerda já dizia: “O técnico é um profissional fundamental para o desenvolvimento de um país, mas se torna de alta periculosidade quando, a serviço do Governo, deixa de defender soluções para aplaudir posições”. É o caso do corpo técnico do Ministério da Integração, não é o caso de Cássio que apenas faz elucubrações hidrológicas tentando, como bom cearense, justificar o injustificável.
O Cássio diz textualmente: “O Açude Orós acumula cerca de dois bilhões de metros cúbicos e sua vazão regularizada é de 12 metros cúbicos por segundo. Quer dizer que de dois bilhões só se aproveitam, incrivelmente,  372 milhões de metros cúbicos. É como se o açude Orós tivesse  apenas 372 milhões de metros cúbicos”.
Nos cálculos do Projeto considera-se oficialmente a evaporação de 30% no Nordeste. Nós sabemos demais que o Orós chega a evaporar 60% ao ano. Vamos dividir ao meio, considerar para efeito de cálculo 45% porque a evaporação é variável, sem a exatidão da matemática, são dados estatísticos e é com eles que todos nós trabalhamos.
A Transposição com a vazão de 26 m³/s, levará 360.000.000 de m³/ano (ou os 372 do Orós) para os oito açudes escolhidos como bacias receptoras, mas estes já estocam 13 bilhões nos seus vasilhames. A evaporação do Castanhão, incrivelmente, um dos receptores da Transposição, é de 6 milhões de m³ por dia. Isto mesmo, 6 milhões/dia. O Cássio sabe disto, mas não declara. Todo o volume de água da Transposição de um ano vai cobrir apenas 60 dias de evaporação do Castanhão. É só calcular. Inacreditável!
Podemos, logicamente, dizer, aí entra a exatidão da matemática, que toda a estrutura da Transposição composta de 720 km de canais com 25 m de largura por 5 m de profundidade (90.000.000 de m³ escavados em rocha), 1 túnel escavado também em rocha com 17 km de extensão por 7 m de largura (maior do mundo para passagem de água), 27 aquedutos, 9 estações elevatórias e o consumo de 520 MW de energia (maior que o consumo do estado de Alagoas), toda esta estrutura ciclópica, repito, irá transportar por ano a titica de 360.000.000 de m³ de água para cobrir a evaporação de 60 dias daquele monumental açude. Esta é a Transposição. Só e só, não sobra mais água.
A Transposição está desnuda, senão vejamos: o Nordeste possui centenas de açudes que acumulam volumes muito maiores ao volume da Transposição tais como: Entremontes (340 milhões) Pacoti (370milhões), Pentecostes (420 milhões), Quixadá (430), Pedras Brancas (440) Poço da Cruz (504 milhões), Boqueirão (536), Santa Cruz do Apodi (600), Mãe D’Água (650), Coremas (750 milhões), Araras (1 bilhão) e por aí vai.
A cada 10 anos a Transposição usará 4 com o transporte máximo de 127 m³/s quando Sobradinho estiver cheio, levando 1,6 bilhões por ano para os 8 açudes. A estrutura da obra está sendo dimensionada para isto. Superior a estes míseros 1,6 bi existem o Banabuiu (1,7bi), Orós (2,1bi) e Açu (2,4 bi) além do Castanhão que é um açude oceânico com 6,7 bilhões (3 vezes a Guanabara).
Como vemos, matematicamente, a transposição de 26m³/s não enche o açude Pentecostes no Ceará e a transposição de 127m³/s não enche o Banabuiu também no Ceará. Mais alguma dívida?
No Nordeste temos estocado nos seus açudes 40 bilhões de m³ de água, volume igual a 16 baias da Guanabara (eles não suportam esta comparação com a Guanabara que é a 2ª maior baia do Brasil e a 3ª do mundo).
O volume transportado representa 1% a 2% do que já existe no Nordeste, mas, segundo os sábios da Corte, é este volume que vai salvar a região da crônica escassez de água.
Esta é a Transposição salvadora que vai suprir as necessidades hídricas dos nordestinos sequiosos, segundo o Governo brasileiro.
O Cássio ainda tem a coragem de falar em irrigação. Levar água caríssima (5 vezes o preço da CODEVASF) a mais de 700 km para irrigar litossolos deixando de irrigar os latossolos do beiço do rio a 0 ou a 1 km da fonte. A água que vai irrigar 1 ha lá no Nordeste irriga 3 ha nas barrancas do rio (Alberto Daker).
João Suassuna é irrepreensível quando diz que a Transposição é chuva no molhado. E o Governo, despudoradamente, tapeia a sociedade nordestina oferecendo um banho de água no Nordeste. São pratos de lentilhas que apetecem.
A preocupação do colega Cássio é dizer que o Prof. Aldo Rebouças errou, só entendia de águas subterrâneas como se fosse admissível a um hidrólogo dissociar águas de superfície de águas de sub superfície. É a valorização de contestar um cientista que não pode mais se defender. Rebouças dizia textualmente: “Existe uma abundância de recursos hídricos superficiais no Nordeste”.  Sobre Aldo Rebouças quem pode falar com propriedade é o paraibano José do Patrocínio, o mago da Hidrologia do Nordeste.
Quisera o Brasil que nos tivéssemos quatro ou cinco cientistas do nível do Aldo.
Não precisamos polemizar esta é a verdade cartesiana.

O colega amigo,
Manoel Bomfim Ribeiro
"DR ENGº MANOEL BOMFIM RIBEIRO  UMA AUTORIDADE RECONHECIDA NACIONALMENTE COM LIVROS, ARTIGOS, E PALESTRAS SOBRE OS PROBLEMAS DS AGUAS,A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO".

Um comentário:

  1. Dimitri. A divulgação desse relato do Engo.
    Manuel Bonfim, é um alento para conhecimento
    da população sobre um tema da maior importan-
    cia para todos nós. Parabens.
    Climerio Anddrade

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