sábado, 19 de novembro de 2011

No final da minha rua tem um largo...

... E no largo um coreto, o último talvez da muy nobre cidade de São Salvador. Com seu casarão de oitão, o forte e a igreja de Santo Antônio, parece um cartão postal do início do século XX. Do lado do poente, a cinematográfica vista sobre a baía e as ilhas. Se os flamboyants são massacrados por administrações obtusas que odeiam a natureza, ainda resta sua maior riqueza, os moradores e freqüentadores do bairro. A quem nunca por aquelas bandas se aventurou, sugiro vir na última sexta-feira do mês.
Quando o sol desapareceu por trás de Itaparica, começa o agito. Meia dúzia de barraquinhas, um ou outro isopor, três churrasquinhos e duas pipocas aguardam a chegada do Grupo Botequim.  Adolescentes, adultos, velhos e crianças surgem da sombra. Artistas, cineastas, jornalistas, músicos, advogados, figurinistas, estudantes e professores. Afinam-se os instrumentos. Para esquentar os dedos, nada como um pedacinho do Ary, outro da Chiquinha. Não ouvirão o alô, alô, som, som dos grandes eventos. Nenhuma ostentação ou piadinha sem graça. Aqui, por algumas horas vai reinar, monarca absoluto, o samba legítimo. Benção, Caymmi! Benção, Batatinha! E até tarde na noite, todos os amáveis fantasmas dos que fizeram nossa cultura popular musical estarão presentes, sentados nos galhos das últimas árvores. Assis Valente, Noel Rosa, Tom Jobim, Cartola, Lamartine Babo sorriem ao constatar que o melhor deles não se afogou no maremoto da mediocridade imposta por gravadoras assassinas. Tem três anos que este grupo traz até o bairro de Santo Antônio momentos de poesia, alegria e encanto. Sorriso nos lábios é o preço da participação. Márcia Ganem dança, a balzaquiana de xale branco mima cada verso das letras, Lise Silvany canta, o velho travesti negro desfila perdido num sonho de passarela, um gringo bem que tenta gingar, Marta Luna bate palmas, o rastafári flutua na felicidade e, reparem: não há um só policial, nem a menor necessidade, já que todo mundo é alto astral, paz e amor.
De repente, reencontro uma Bahia perdida. Aquela que me seduzira em 1971.

2 comentários:

  1. Realmente tudo muito lindo ,mas existe uma pergunta quantos dos moradores estarão desejando que esse evento se torne descente e que se tenha no mínimo banheiros públicos solicitado por seus idealizadores pelo menos ou ainda que solicitem a presença da policia militar é essa mesma que nós achamos que só é necessária para as confusões que serve também para inibir trafico e consumo de drogas e até assaltos e furtos que acontecem nas sextas-feiras do Samba.

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  2. Há muitas maneiras de ver uma mesma coisa.A acobasa tem que provar estas estatísticas de assaltos no dia do samba!!Trabalho como guia de turismo cotidianamente nos bairros do Centro Histórico e tenho certeza que no dia do samba,não há assaltos.O Samba de botequim ajuda a devolver valor ao bairro do Santo Antonio.Quantos aos banheiros....só 2 químicos e com estudos para posicioná-los.Por que a Acobasa não batalha?

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